Correio Escola - 2006
Mostra de fotos da RAC movimenta escola de Campinas
A exposição, realizada por repórteres fotográficos da RAC, modificou a rotina dos alunos e foi tema de diversas atividades
Lígia Moreli, da Agência Anhangüera
Painéis com imagens variadas de cenas tristes, alegres e curiosas do cotidiano registradas por um jornal bastaram para quebrar a rotina da Escola Estadual "Gustavo Marcondes" , de Campinas. A exposição de fotos levada para a instituição de ensino pela Rede Anhangüera de Comunicação (RAC), dentro do projeto Correio Escola, proporcionou aos alunos, além da oportunidade de apreciar o trabalho realizado pelos repórteres fotográficos da empresa, uma palestra com um dos fotógrafos participantes da mostra, Humberto de Castro. A escola foi a primeira a receber a exposição itinerante, que deverá percorrer outras 31 escolas públicas e particulares de Campinas e região.Durante uma hora e meia o repórter esteve na mira do verdadeiro bombardeio de perguntas de alunos de 6ª a 8ª série. Os olhos brilhavam diante das histórias de risco, aventura e de momentos emocionantes vividos pelo jornalista. A curiosidade dos alunos não se esgotava e muitos não escondiam a alegria em ter contato com um mundo tão mágico que leva a tragédias, grandes fatos e personalidades.Orientados pela professora Ângela Junquer, que também é coordenadora pedagógica do projeto Correio Escola, os alunos fizeram exercícios de produção de textos baseados na observação das fotos. "Cada aluno escolheu a foto que mais gostou e fez primeiro uma descrição da imagem. Depois cada um criou a sua história a partir da foto escolhida e, por último, um texto opinativo" , explicou a professora. Além disso, os estudantes elaboraram perguntas para fazerem ao repórter fotográfico durante a palestra, que foram desde curiosidades sobre o dia-a-dia da profissão, até questões técnicas sobre fotografia.Durante sua explanação, Castro falou um pouco sobre a produção da mostra fotográfica, destacando os diferentes estilos de cada repórter e mostrando aos alunos que cada pessoa tem uma visão diferenciada da mesma realidade. "Se eu der uma câmera para cada um de vocês e pedir para fotografar a mesma imagem, eu terei várias fotos diferentes" , destacou.O fotógrafo também ressaltou a responsabilidade e a importância do fotojornalismo como elemento de informação e transformação da realidade. "Com nossas fotos procuramos fazer com que as pessoas se sensibilizem, reflitam e mudem alguma coisa" , afirmou.Durante a palestra, alguns alunos puderam ler trechos de textos produzidos a partir das imagens dos fotógrafos da RAC. Ao ver uma foto produzida pelo repórter Carlos Souza Ramos sobre o Museu do Negro de Campinas, Letícia Sanantos, da 8ª série, se lembrou do avô, um homem negro, e acabou por escrever um texto que emocionou a classe (leia texto abaixo).Para a professora Ângela, o resultado não poderia ser melhor. "Esta foi a primeira escola a receber a exposição e o resultado foi excelente. O mais importante é esta oportunidade de aproximação entre os profissionais de uma redação de jornal, que geralmente são glamourizados, com a escola. Esta interação é muito enriquecedora" , concluiu.Em lembrança ao meu vôLembro-me que ele só usava camisas brancas, era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Conhecia como ninguém os museus da cidade e gostava muito de sua origem africana. Como todos os homens daquela época era bravo e também me dava umas palmadas, mas hoje eu agradeço pois tudo que passamos serviu de lição!Chorávamos quando víamos alguma discriminação de cor, raça ou qualquer outro motivo, e ríamos muito porque éramos felizes. Naquela época todo mundo era feliz!Pena que ele se foi num dia de sol. Morreu dormindo. Chorei ao pensar que nada o substituirá e que eu ia ter que me acostumar com a situação. As camisetas brancas iam ser doadas, as brincadeiras não havia mais. Tudo ia junto com ele, menos o amor, que era tão grande que na hora parecia que saia um pedaço de mim. Doía no coração!Tive que me acostumar. Quatro anos se passaram e de hoje em diante só fica guardada a lembrança boa de tudo que passamos. Por isso é que eu digo ao homem negro de camisas brancas: vô, te amo!*Texto de Letícia Sanantos, aluna da 8ª série da escola "Gustavo Marcondes" , produzido a partir da foto do jornalista Carlos Souza Ramos mostrando o Museu do Negro.
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